Passar frio andando de moto é uma das piores experiências pela qual pode passar um motociclista. O desconforto não é a pior consequência, mas sim a insegurança que isso provoca. Com o corpo frio, nossos reflexos parecem ficar anestesiados, e a capacidade de movimentação é afetada. Entramos em “modo de emergência”, e o organismo sempre buscará preservar órgãos internos vitais (coração, pulmões, fígado…), “roubando” sangue das extremidades. Como bem sabem velhos motociclistas, mãos e pés gelados parecem ficar travados, o que pode ser bem inconveniente na hora de frear ou desviar de imprevistos.

Assim como um motor, o corpo humano tem uma temperatura ideal de funcionamento, entre 36 e 37,4ºC. Acima disso, é febre. Abaixo, hipotermia leve que, conforme a temperatura decresce, leva a graus mais severos de perda de calor corporal.

Andar de motocicleta no Brasil é algo possível o ano todo, pois mesmo nas regiões mais frias é raro a temperatura baixar dos 0ºC por muitos dias seguidos, como ocorre em outros locais do planeta. Porém, mesmo em nosso clima amigável, rodar de maneira prolongada a temperaturas nem tão baixas, como 10 ou 15ºC, pode causar problemas.

Como evitá-los? A primeira providência é cuidar das extremidades, regiões naturalmente expostas nessa situação, e que tendem a perder calor de maneira veloz. Engana-se quem confia que uma simples luva de couro, mesmo que de boa qualidade, basta para encarar o friozinho do inverno brasileiro: o couro não é capaz de manter as mãos aquecidas por muito tempo recebendo um fluxo constante e intenso de ar frio. Portanto, é preciso escolher luvas forradas, de preferência aquelas que têm camadas internas capazes de bloquear a saída do calor.

Frio imprevisto?

Mesmo o mais bem equipado dos motociclistas já foi pego de surpresa por uma temperatura que caiu radicalmente no meio de seu passeio ou viagem. O dia estava bonito, a temperatura amena e, de uma hora para outra, tudo ficou cinzento e… muito frio! O providencial forro da jaqueta e o da calça ficaram guardados no armário de casa, junto com as botas boas e o par de luvas “profissa”. O que fazer?
Arriscar a segurança não vale a pena, e alguns truques podem servir de paliativo para chegar em casa sem levar uma gripe ou uma pneumonia de brinde, ou para evitar um acidente por causa dos reflexos congelados.

Para o tórax, a receita campeã é o jornal: algumas folhas dobradas enfiadas entre seu peito e a jaqueta têm efeito milagroso, cortando o fluxo de ar frio de maneira inacreditável. Mais frio? Mais folhas de jornal. A técnica também serve para as pernas, bastando apenas ter paciência (e jornal suficiente) para forrar sua roupa com camadas de notícias contra o frio.

Para os pés, a solução mais fácil é vestir sacos plásticos entre as meias e os calçados. Pouco frio, um saco em cada pé. Mais frio, mais sacos. Inconveniente? Sim: seu suor vai empapar as meias, mas pelo menos o frio, ou ao menos boa parte dele, não vai te incomodar.

Já o mesmo não pode ser dito sobre as luvas de borracha usadas em jardinagem ou para lavar louça. Por serem mais grossas, barram o frio de maneira eficaz, são fáceis de achar e vendidas em tamanhos que permitem o uso sobre luvas específicas para motociclistas. O efeito estético não será exatamente estupendo uma vez que em geral elas têm cores nada discretas – amarelo, laranja ou verde –, mas é melhor usá-las do que ficar com dedos gelados.

O sofrimento e risco decorrente de uma queda brusca da temperatura devem ser evitados. Em nome do conforto e principalmente da segurança, investir em trajes técnicos capazes de encarar um espectro de temperatura amplo é o ideal, mas quando o orçamento não permite – ou viradas de tempo imprevistas ocorrem –, há jeitos de não ser muito maltratado pelo frio ao guidão.